O filme “Ainda Estou Aqui”, em cartaz, é mais uma mostra de quanto o regime militar era cruel, desumano e impiedoso. O filme retrata a história do deputado cassado Rubens Paiva, que foi torturado e assassinado pelo regime aos 41 anos, deixando mulher e cinco filhos, entre eles o escritor Marcelo Rubens Paiva. A interpretação de Fernanda Torres, no papel da viúva, é impecável. Um Filme impactante.
Quem era Rubens Paiva?
Engenheiro por formação, o deputado federal Rubens Paiva fez um discurso considerado histórico, na Rádio Nacional, em 1º de abril de 1964, incitando a população a resistir pacificamente ao golpe militar que se instaurara no país, no dia anterior. Filiado ao PTB, era um defensor das reformas de base sugeridas pelo presidente João Goulart, deposto pelo golpe. Poucos dias depois, seu mandato foi cassado, e o ex-deputado teve de se exilar no exterior.
Paiva já havia retornado ao Brasil alguns anos antes, quando, em 20 de janeiro de 1971, seis agentes armados com metralhadoras invadiram sua casa, no Rio, e o levaram preso. O deputado e engenheiro saiu de casa dirigindo seu próprio carro. Nunca mais seria visto pela família. Conduzido ao DOI-CODI, na Tijuca, foi torturado e morto. Tinha 41 anos e cinco filhos. Eunice, sua esposa, e a filha Eliana, de apenas 15 anos, também foram detidas.
A mulher permaneceu 12 dias incomunicável, e a adolescente, 24 horas. Hoje, sabe-se que o assassinato de Rubens Paiva teve menos a ver com sua postura antiditadura do que com a sua atuação como deputado. Ele integrou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), a organização patrocinada pelo Departamento de Estado dos EUA que financiou políticos e jornalistas envolvidos na campanha contra João Goulart.
Durante muitos anos, as autoridades militares sustentaram uma farsa para justificar o sumiço do ex-deputado. Alegaram que ele estava sendo conduzido por agentes, de carro, quando teria sido sequestrado por guerrilheiros de esquerda.
Apenas em fevereiro de 1996, 25 anos após a prisão, Eunice Paiva conseguiu a certidão de óbito do marido.
Eunice se tornou um ícone no combate à ditadura e na luta por direitos humanos. Empreendeu uma incansável peregrinação em busca do marido e se formou em direito para ter mais instrumentos com que atuar em movimentos como a luta pela Anistia, Diretas Já e Constituinte. Morreu em 2018, no mesmo dia em que se completaram 50 anos da edição do AI-5.
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